23/11/2007

Chuviscos matinais em Xanadu



Um grupo de astrónomos da Universidade da Califórnia, em Berkeley, trabalhou sobre imagens recentes de Titã, a maior lua de Saturno, obtidas no Infravermelho Proximo
pelo VLT
(Very Large Telescope) do Eso, no Chile, e pelo Observatório Keck
no Havai. Os resultados obtidos comprovam a existência de uma cobertura nebulosa
quase global a altitudes elevadas, bem como chuviscos matinais de metano, fracos e persistentes, sobre as colinas ocidentais do maior continente de Titã, Xanadu.

Na maior parte das imagens do Keck e do VLT, as nuvens de metano líquido e os chuviscos surgem no início da manhã, mal o Sol
começa a iluminar a lua. Segundo os membros da equipe, a causa destes chuviscos pode estar relacionada com a própria topografia de Titã, resultando de processos similares aos que acontecem na Terra e que dão origem às chuvas orográficas. Estes chuviscos matinais ocorrem apenas em áreas próximas de Xanadu, mas nem sempre no mesmo sítio. Dependendo das condições locais, a chuva pode atingir o solo, ou então converter-se em neblina baixa e a meio da manhã dissipa-se. Convém notar que um dia em Titã dura 16 dias terrestres, pelo que estas manhãs de neblina ou de chuva fraca duram aproximadamente 3 dias terrestres.



Titã é maior que o planeta Mercurio
e é a única lua no Sistema Solar
pouco densa, que é essencialmente composta por azoto, semelhante à atmosfera primitiva da Terra. Observações prévias revelaram que uma neblina de hidrocarbonetos envolve toda a lua, estendendo-se até uma altitude de 500 quilómetros, tornando-se menos densa nas camadas superiores. A concentração máxima dá-se no pólo sul, entre os 30 e os 50 quilómetros de altitude.

À superfície, a temperatura é muito baixa (-183ºC) permitindo a existência de metano e etano nos estados líquido e sólido. Junto aos pólos, existem configurações que se julga serem lagos de hidrocarbonetos no estado líquido, análogos aos oceanos na Terra, e que presumivelmente estarão a ser alimentados pela precipitação de metano. A Sonda Huyguens
já observara formações na superfície que podiam ter sido geradas por precipitação. No entanto, até agora, nenhuma precipitação fora observada directamente.

Máté Ádámkóvics pensa que a chuva pode ser o mecanismo dominante para devolver o metano da atmosfera à superfície, fechando o ciclo do metano, num processo semelhante ao que ocorre na Terra com o ciclo da água.

As nuvens de metano gelado foram observadas, pela primeira vez, no pólo sul de Titã, em 2001, por um grupo de cientistas da Calthec, usando o Keck II. Depois disso, nuvens isoladas de etano foram observadas no pólo norte pela Cassini, tal como algumas nuvens de metano em latitudes médias a sul. Em 2005, a Huygens recolheu dados que mostravam evidências de haver nuvens geladas de metano entre os 25 e os 30 quilómetros de altitude. A extensão das nuvens nas camadas mais baixas era, no entanto, ainda pouco clara.

As novas imagens mostram distintamente uma ampla nuvem de metano gelado, a uma altitude entre os 25 e os 35 quilómetros, e nuvens líquidas de metano na tropopausa, abaixo dos 20 quilómetros, com chuva nas regiões inferiores. Segundo Máté Ádámkóvics, as nuvens são semelhantes aos cirros na Terra, com a diferença de que as gotículas de metano em Titã terão, segundo as previsões, pelo menos 1 milímetro, ou seja, serão mil vezes maiores que as das nuvens terrestres. Como o conteúdo em humidade é semelhante ao das nuvens na Terra, isto significa que as gotículas em Titã estarão muito mais espalhadas, formando nuvens menos densas e por isso mais difíceis de detectar.

Estes resultados foram publicados na edição de 11 de Outubro de 2007 do Science Express, uma versão on-line do jornal Science, com o título: "Widespread Morning Drizzle on Titan", por Máté Ádámkovics, Michael H. Wong, Conor Laver, e Imke de Pater. Foram também apresentados em conferência de imprensa a 11 de Outubro no encontro da Divisão para Ciências Planetárias da Sociedade Astronómica Americana.


Fonte: Portal do Astronomo

Nenhum comentário: