19/02/2008

Problemas podem adiar reconquista americana da Lua

De volta à Lua? A caminho de Marte? Uma visita a um asteróide? Na Universidade Stanford, terça-feira, 50 especialistas em exploração espacial e antigos executivos da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa) dos Estados Unidos, acadêmicos e representantes de grupos de interesses começaram uma reunião para avaliar se os Estados Unidos estão no caminho certo com seus planos para voltar à Lua em 2020, construir uma base de longo prazo no satélite e posteriormente enviar uma missão tripulada a Marte.
Louis Friedman, fundador da Sociedade Planetária, uma organização que promove a exploração espacial, disse que um dos motivos da reunião era o fato de que em 2009 o país terá um novo presidente e um Congresso renovado, e quem quer que venha a ser o eleito, diz ele, "com certeza trará consigo novas forças políticas que não compartilharão da visão do presidente Bush quanto à exploração espacial", representada pelo plano proposto por seu governo em 2004.

Friedman, um dos anfitriões da reunião, disse que, dado o aperto nos orçamentos de exploração espacial, o momento era propício a preparar a transição.

Não se trata do único esforço nesse sentido que se encontra em curso, mas é o que vem atraindo mais atenção. A cobertura antecipada sobre a reunião, que foi descrita inicialmente no mês passado pela revista Aviation Week and Space Technology, sugere que até mesmo antes do evento os participantes já pareciam preparados para recomendar o abandono da proposta de estabelecimento de uma base lunar de longa duração, em troca de uma aceleração nos planos de estudo dos asteróides.

A informação veiculada pela revista gerou controvérsia e causou susto aos promotores da reunião. "Vocês estão fazendo uma tempestade em um copo de água, e o copo nem está cheio ainda", disse Friedman no mês passado.

G. Scott Hubbard, outro dos co-anfitriões do evento, professor e consultor de astronomia e aeronáutica em Stanford, insistiu em que não havia nada de pré-decidido na reunião, e que seu objetivo era tratar de propostas específicas, e da redução generalizada de recursos científicos em campos de atividade como a aeronáutica e as ciências de observação da Terra.

"Nós enfrentamos um duplo dilema", disse Hubbard. "Como país, não podemos abandonar os esforços de exploração espacial tripulada a outros países, mas tampouco podemos consumir tudo que resta do orçamento de ciência e abandonar nossos papéis na observação da Terra, na exploração do Sistema Solar e na astrofísica espacial".

Para Friedman, o fato de que a reunião, um evento informal que pode oferecer alternativas ao plano de exploração espacial de Bush, tenha despertado tamanho interesse sugere que a "insatisfação latente" quanto ao programa vigente da Nasa, descrito pejorativamente como "Apollo com esteróides", talvez seja considerável. Ele questionou o plano de retornar à Lua, que foi adotado em um momento no qual outros países, entre os quais a China, estão desenvolvendo projetos de missões lunares tripuladas.

"O que não entendo é por que motivo estamos entrando em uma corrida espacial que já vencemos", ele afirmou, "e que poderíamos perder da segunda vez".

A reunião claramente irritou Michael Griffin, o atual administrador da Nasa, que no mês passado divulgou um comunicado argumentando que "as questões que essa conferência pretende debater já foram perguntadas, e respondidas". Ele acrescentou que muitas vozes haviam sido ouvidas no processo de desenvolvimento do plano, que o Congresso norte-americano finalizou em 2005.

Em entrevista na semana passada, Griffin disse que "passamos três anos reavaliando o programa e organizando a infra-estrutura para ele. Mudá-lo agora? Para mim, isso seria simplesmente estúpido". Ele sugeriu que parte da oposição se deve a empresas do setor aerospacial insatisfeitas por não terem conquistado contratos nos termos do projeto original, e interessadas em uma segunda chance de obter encomendas lucrativas. Mas, acrescentou Griffin na semana passada, "nos Estados Unidos não costumamos mudar com freqüência nossa política espacial, porque se o fizéssemos jamais conseguiríamos realizar coisa alguma".

O governo Bush ordenou que o programa do ônibus espacial seja encerrado, com a desativação das espaçonaves remanescentes em 2010. O novo plano espacial estipula a produção de uma nova geração de veículos espaciais, com base em um modelo chamado Constellation, que conduziria uma nova missão tripulada à Lua até 2020. Mas as novas espaçonaves, que enfrentam enormes dificuldades técnicas e apertos orçamentários, não devem estar prontas antes de 2015, e essa lacuna de cinco anos no acesso autônomo dos Estados Unidos ao espaço poderia se estender ainda mais se o programa espacial tiver de ser reconsiderado a partir do zero.

Friedman disse que estava decepcionado com a reação desfavorável da Nasa, já que as pessoas convidadas para a reunião "são profissionais que trabalharam para a Nasa por anos, e nunca contra a agência".

Um dos especialistas convidados, John Logsdon, diretor do Instituto de Política Espacial, parte da Universidade George Washington, disse que reexaminar os conceitos de exploração espacial desenvolvidos quatro anos atrás era "perfeitamente apropriado", já que "não estamos estabelecendo o curso para a próxima década, mas sim estabelecendo o curso para o próximo século, e mais além".

"Caso o plano seja bom, ele sobreviverá a todas as críticas", disse Logsdon.


Fonte:Site Terra

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